Minha dor morreu. Deveras provocar felicidade em mim essa afirmação.
Mas não. Como tudo que morre leva um fardo triste, assim está.
Não sei se conseguirei dormir sem o arfar de cortes em meu peito.
Como não mais sentirei culpa por finalmente estar sorrindo?
Uma roupa que está sobre meus corpo a dias, suja e com cheiro forte.
Acordo nua, lavada, como a muito não estava.
Num cabide ao canto do quarto, está o que parece ser minhas novas vestes.
Junto um bilhete escrito com sua caligrafia relaxada.
"- Vista-se e não aceite menos que a euforia."
Minha dor era nosso único elo em minha cabeça.
Aquilo era como me despedir novamente.
Novamente estar fora de mim por segundos.
Novamente dar um beijo em sua testa gélida.
Mais um adeus na lista de tantos outros destinados a ti.
Partiu, me forçando a continuar. Não parece egoísmo?
Não irei me lamentar, chorar ou julgar a vontade maior de quem quer que seja mais uma vez.
Mas obedeci, dobrei seu bilhete ao meio e coloquei-o em meu bolso...
...
Ao contrario do que dizem, a esperança foi a primeira descer do vagão.
Como numa reunião chata de família onde todos esperam que alguém puxe a fila pra ir embora.
Com olhares da certeza do até breve, seguiam.
Mas agora na ultima parada, a dor que não é mais minha, desce. Dizendo que se eu pudesse encontrar a esperança novamente, encontraria todos os outros. Quem sabe.
Porém, nunca antes foi tão bom estar sozinha...
Eu e seu bilhete dobrado ao meio em meu bolso.