domingo, 28 de outubro de 2012

Uma vez, na casa de dois.



Sem mais delongas,
Vá embora, amor !
Que já não suporto essa dor.
Que tu me faz sentir toda vez que se materializa na minha cabeça,
Escorrendo pela minha face, encontrando certeiro meu coração.
Da saudade eu já não quero mais nada!
Confesso que saímos algumas vezes, mas não agradou seu jeito de me sorrir.
Tudo nela me lembrava-a, até o modo descabido de falar prepotências exageradas.
Eu juro, ela tivera um beijo amargo de hortelã seco nos lábios.
Mas você sabe, a estranheza me atrai de certa forma.
Mesmo com a repulsa, houvera outras noites e outros beijos.
Como aqueles tais que nunca foram dados por ti.
Saudade.
Sinto-a na pela, nas rugas da orelha e nos côncavos das hastes.
Como um hospedeiro mal vindo, entrou, sentou, pegou uma bebida e ficou.
No segundo dia trancou as janelas a pregos sem qualquer aviso prévio e se desfez de todas as lâmpadas e abajures da casa.
No terceiro, rasgou e queimou todos meus livros literários da lista preferida. Sua justificativa desinteressada, disse que livros eram totalmente dispensáveis na escuridão.
No quarto, só restou um colchão velho estirado no chão.
5º, me fez dormir o dia ou a noite, ou os dois inteiros no mesmo.
No sexto, ou até mesmo no cesto, algumas laranjas apodrecidas com as invejáveis moscas sendo felizes.
No sétimo dia, ela não descansou.
Agora, envergonho-me de a ter comparado com você. Um dia pra mim, são dez pra ela. Nota-se na sua aparência já debilitada. Portanto, me sinto fraca. Já ela, se faz a mais forte de todos nessa casa de dois.
Assim passaram mais semanas, meses e anos.
Vez em quando. algumas pessoas com vozes não muito estranhas batem a porta e gritam por mim. Insistem, após tanto tempo.
Já não há espaço pra tanta poeira, desamor e solidão.
De tempo em tempo ela viria me lembrar de coisas que eu gostaria de esquecer.
Ela sempre com vestes impecáveis e com uma feição fria, entupida de café.
Nunca sai, dorme ou come qualquer coisa.
Pássaros me ajudam a saber que se faz dia lá fora.
Com seu pensamento pleno que seu domínio sobre mim já se faz completo, anda distraída.
Dia desses, peguei-a cochilando na poltrona velha com a cabeça apoiada em seu próprio ombro.
Naquele momento qualquer tentativa de fuga por mais que falha, era válida.
No comodo  mais longe do qual ela estava, sobre algo alto alcancei o telhado. 
Algumas telhas era exatamente o preço do sol.
Ao tentar sair, a lei da gravidade se faz presente.
Depois disso, a muito não vejo a face obscura da saudade.
Outras saudades vieram, mais puras e limpas.
Me levam pra dançar na grama fresca do campo, com beijos doces e ávidos.
Mas também não as vejo sempre.
Porém, quando partem, deixam-me um abraço tão apertado que ainda sinto pelo resto da semana.






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