Sempre sonhei em ter uma vida fácil, sem muitos agitos ou conflitos.Mas quem disse que é como agente quer? Bom nasci e fui criada na cidade de Aquidauana-MS. Cidade pacata e interiorana onde sonhos não passam de meras ilusões. Mas agora ja sou gente "grande" preciso transformar essas ilusões e caminhos para a realidade. Passei toda a minha vida enclausurada em uma cápsula de vidro imaginária que minha mãe inventou para me proteger de tudo que ameaçasse minha integridade física ou mental. Em berço evangélico aprendi tudo que era “errado e certo“ para eles, ou seja, se fizer coisa errada você vai para o inferno, e se fizer coisa certa você vai para o céu. Vivi com essa concepção de vida, e poderia morrer por aquilo. Mas ate crescer e ver que não era somente isso, e sim existia outro mundo que pra mim ate então era completamente desconhecido. Aos 14 anos resolvi me liberta daquela dura cápsula, deixei a igreja. Sentia tanta falta que poderia jurar que não sobreviveria tanto tempo sem as pessoas me dizendo sempre o que eu devia fazer ou falar. Sentia falta de sempre ter alguém me repudiando por algum mau feito mesmo que não fosse intencional. Como ter a sensação de sentir falta de algo que não lhe fazia bem? Não venho aqui fazer apologia de anti cristão , ou coisa parecida.
E os anos foram passando. Conheci novas pessoas, sendo umas boas, e na maior parte umas não tão boas assim. Eis que surge meu interesse pelo lesbianismo. Ou melhor, a coragem de enfrentar que a muito vinha me martelar, uma coisa que eu temia só em pensar. Mas então , não podia mas fugir disso. É como algo gritante dentro de você fazendo de tudo para sair e por medo ou vergonha não sabe mais o que fazer para deixá-lo quieto dentro de ti? Assim que me sentia toda vez que acordava , todas as manhãs e via que tudo que estava acontecendo não era apenas um sonho. Até que enfim me apaixonei por uma garota, ou me encantei não sei ao certo. Eu poderia fazer de tudo para estar com ela, mas isso não era recíproco, amei sozinha , enfim levei um belo e majestoso pé na bunda! Então decidir seguir a minha própria vida e deixar a tal moça de lado. Algum tempo depois conheci outra garota, ela era linda e por algum motivo eu sabia que me completava, mesmo ela morando longe. Mas não sabia se eu queria iniciar aquela minha nova vida com uma mulher tão distante de mim. Por muitas vezes neguei sentir amor, e assim negando um compromisso. Mas tem horas que não da mais, resolvi dar a cara a tapa, e viver aquele intenso e confuso romance. Ai começa a melhor e a pior época da minha vida. A melhor porque eu encontrei a mulher da minha vida. E a pior... Enfrentar o preconceito e a tão temida reação da minha família. Contar ou não? Essa duvida me martelou por muito tempo, ate que uma noite resolvi encarar a minha mãe. Lembro-me como se fosse hoje, nos duas sentadas na sala escura e eu chorando compulsivamente e ela tremendo sem saber o que estava acontecendo. E ela com sua voz doce e tranqüila me fez a pergunta que estava esperando. – Quer me contar algo meu anjo? Não queria a magoar mas era preciso se não eu nunca me veria livre do fantasma do medo que me assolava todas as vezes que ela me olhava. Com um impulso de coragem a contei tudo. E Ela no mesmo instante começou a chorar e me abraçou, ficamos assim por eternos 5 minutos. Aquele silêncio estava me matando. Ate gostaria que ela falasse alguma coisa, ate me xingar talvez, mas tinha certeza que ela nunca faria isso. Eu senti o seu olhar na escuridão da sala quando me disse: Eu te amo minha filha. Aquelas palavras me trouxeram um ímpeto de alegria e alivio, uma imensidão de pensamentos de tudo que havia imaginado. Ela também me perguntou se eu estava preparada para enfrentar a repressão desta sociedade fria e cruel a qual vivemos. A partir daquela noite , aqueles fantasmas do qual falava , simplesmente sumiram. Vi que eu posso viver a minha vida independente do que os outros achem ou pensem , pois a vida é somente minha. Eu , somente eu irei arcar com meus erros e acertos. E também aprendi que o que é rotulado certo para uns, pode não ser o certo pra mim. E também o que é certo pra mim , pode ser abominável para outros.
(Emily Santana Limonges)
