sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Liberdade.


O sol sobre os seus olhos ressaltam o castanho cor de liberdade.
Pudera eu te prender nos meus abraços e te enlaçar com meus beijos.
Mas sua pele também tem cheiro de liberdade.
Queria mesmo fundir nossos corpos um no outro feito papel camurça.
Penetrar nossos prazeres no mundo como se nada mais importasse.
Seus braços parecem mais com asas de tão libertos.
Pentear seus cabelos com a ponta dos meus dedos.
Desfazendo toda essa bagunça da sua mente.
Mas eles, libertos, não aceitariam.
Beijar cada linha de seus pés rente sua raiz.
Provocar sentidos lúcidos até você suspirar.
Mas seus pés, esses sim, emanam liberdade.
Então mesmo que eu pudesse tê-la um dia, não daria.
Porque você transpira liberdade.
Cultua a liberdade.
Evoca liberdade.
Grita liberdade.
Goza toda sua notória liberdade.


E eu, com todas essas amarras e peso nas pernas, jamais ousaria tirar-lhe isso.

sábado, 1 de agosto de 2015

Nó.




minha boca encostou-se a seus lábios
enquanto minhas mãos reconheciam cada parte daquele corpo
sua pele era tão macia que nada humano lhe era parecido
nossos corpos juntos e compassados gemiam
já não se era necessário pudor
seus seios  rijos a mostra tiravam totalmente minha lucidez
num ato rápido sentia o em minha boca
enquanto a pressionava no concreto gélido
os sons indecifráveis que fazia me eram favoráveis
não suportava tanto prazer me apressei a seu sexo
estavamos entregue ao ápice
demoradamente no interno de suas coxas esperei a ordem
sagazmente lhe foi sugado o sulco
cheiro e suor inebriando se faziam feroz
gemidos cada vez mais altos lhe veio o gozo apertando no meio de suas pernas
em nó abaixo da lua
no chão
da sua rua


domingo, 16 de dezembro de 2012

Seu bilhete...




Minha dor morreu. Deveras provocar felicidade em mim essa afirmação.
Mas não. Como tudo que morre leva um fardo triste, assim está.
Não sei se conseguirei dormir sem o arfar de cortes em meu peito.
Como não mais sentirei culpa por finalmente estar sorrindo?
Uma roupa que está sobre meus corpo a dias, suja e com cheiro forte.
Acordo nua, lavada, como a muito não estava.
Num cabide ao canto do quarto, está o que parece ser minhas novas vestes.
Junto um bilhete escrito com sua caligrafia relaxada.
"- Vista-se e não aceite menos que a euforia."
Minha dor era nosso único elo em minha cabeça.
Aquilo era como me despedir novamente.
Novamente estar fora de mim por segundos.
Novamente dar um beijo em sua testa gélida.
Mais um adeus na lista de tantos outros destinados a ti.
Partiu, me forçando a continuar. Não parece egoísmo?
Não irei me lamentar, chorar ou julgar a vontade maior de quem quer que seja mais uma vez.
Mas obedeci, dobrei seu bilhete ao meio e coloquei-o em meu bolso...

...

Ao contrario do que dizem, a esperança foi a primeira descer do vagão.
Como numa reunião chata de família onde todos esperam que alguém puxe a fila pra ir embora.
Com olhares da certeza do até breve, seguiam.
Mas agora na ultima parada, a dor que não é mais minha, desce. Dizendo que se eu pudesse encontrar a esperança novamente, encontraria todos os outros. Quem sabe.
Porém, nunca antes foi tão bom estar sozinha...
Eu  e seu bilhete dobrado ao meio em meu bolso.


sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

...





Noite quente de um dia qualquer, o suor dilata meus poros a procura de fuga.
Seriam eles certos por se manterem distantes de toda essa confusão interior?
Fecho meus olhos e vejo adiante de mim mesma, um porvir num lugar agradável jogada entre folhas.
Quero a todo instante arrancar de mim esse instinto de benevolência fajuta.
Mas algo mais forte me coloca contra parede e impõe trejeitos, fantasias, jogos...
Todas as cores de um ser único que vive em cima da minha cabeça dando ordens absurdas.
Fale, sorria, faça piadas, seja rude, durma, durma mais, por que não morre?
Vez em quando num ato displicente, entra pelo meu nariz, bocas e ouvidos em direção ao órgão que sua única função seria me manter de alguma forma.
Um coração falho e cheio de marcas, não mais estranha seres desconhecidos.
Talvez pela certeza de que só farão novos machucados e partirão.
Com o pensamento de "não é o primeiro e nem será o último..."
Como é doce a dor causada, lágrimas vomitadas.
Anjos sem sexo, o lago sem o monstro, cabana sem segredos e eu sem eu mesma.
Encruzilhadas com um fim barrado por muros pichados de pentagramas.
Marcar território com saliva amanhecida ao fundo de cigarros e conhaque barato.
Noite quente de um dia qualquer, o que há de fazer sentido?
Nada. Nem mesmo isso.



domingo, 28 de outubro de 2012

Uma vez, na casa de dois.



Sem mais delongas,
Vá embora, amor !
Que já não suporto essa dor.
Que tu me faz sentir toda vez que se materializa na minha cabeça,
Escorrendo pela minha face, encontrando certeiro meu coração.
Da saudade eu já não quero mais nada!
Confesso que saímos algumas vezes, mas não agradou seu jeito de me sorrir.
Tudo nela me lembrava-a, até o modo descabido de falar prepotências exageradas.
Eu juro, ela tivera um beijo amargo de hortelã seco nos lábios.
Mas você sabe, a estranheza me atrai de certa forma.
Mesmo com a repulsa, houvera outras noites e outros beijos.
Como aqueles tais que nunca foram dados por ti.
Saudade.
Sinto-a na pela, nas rugas da orelha e nos côncavos das hastes.
Como um hospedeiro mal vindo, entrou, sentou, pegou uma bebida e ficou.
No segundo dia trancou as janelas a pregos sem qualquer aviso prévio e se desfez de todas as lâmpadas e abajures da casa.
No terceiro, rasgou e queimou todos meus livros literários da lista preferida. Sua justificativa desinteressada, disse que livros eram totalmente dispensáveis na escuridão.
No quarto, só restou um colchão velho estirado no chão.
5º, me fez dormir o dia ou a noite, ou os dois inteiros no mesmo.
No sexto, ou até mesmo no cesto, algumas laranjas apodrecidas com as invejáveis moscas sendo felizes.
No sétimo dia, ela não descansou.
Agora, envergonho-me de a ter comparado com você. Um dia pra mim, são dez pra ela. Nota-se na sua aparência já debilitada. Portanto, me sinto fraca. Já ela, se faz a mais forte de todos nessa casa de dois.
Assim passaram mais semanas, meses e anos.
Vez em quando. algumas pessoas com vozes não muito estranhas batem a porta e gritam por mim. Insistem, após tanto tempo.
Já não há espaço pra tanta poeira, desamor e solidão.
De tempo em tempo ela viria me lembrar de coisas que eu gostaria de esquecer.
Ela sempre com vestes impecáveis e com uma feição fria, entupida de café.
Nunca sai, dorme ou come qualquer coisa.
Pássaros me ajudam a saber que se faz dia lá fora.
Com seu pensamento pleno que seu domínio sobre mim já se faz completo, anda distraída.
Dia desses, peguei-a cochilando na poltrona velha com a cabeça apoiada em seu próprio ombro.
Naquele momento qualquer tentativa de fuga por mais que falha, era válida.
No comodo  mais longe do qual ela estava, sobre algo alto alcancei o telhado. 
Algumas telhas era exatamente o preço do sol.
Ao tentar sair, a lei da gravidade se faz presente.
Depois disso, a muito não vejo a face obscura da saudade.
Outras saudades vieram, mais puras e limpas.
Me levam pra dançar na grama fresca do campo, com beijos doces e ávidos.
Mas também não as vejo sempre.
Porém, quando partem, deixam-me um abraço tão apertado que ainda sinto pelo resto da semana.






domingo, 9 de setembro de 2012

Vestido rosado.



Jogada no sofá da sala escura e quente
É, quente. Não sei porque, mas anda tudo tão quente ultimamente.
Os dias de um insuportável vazio me tiram a coragem de levantar dali.
Inexplicável motivo do dia voltar todas as manhãs, acompanhado de minha dor de cabeça.
Mas como num súbito cochilo de piscar de olhos preguiçosos
Me vejo em um lugar completamente desconhecido
Porém com aquela sensação inquieta de já ter estado ali
Bem parece com uma rua estreita e vazia, que se afunilava a cada passo dado.
Apesar da ausência de pessoas, tinha um barulho quase que ensurdecedor de vozes e gritos.
Assustada e com um medo incomum, corri o mais depressa que pude.
Até estar tão apertado que impedisse de me mover.
Tentei voltar, mas tudo transformou-se em um imenso breu aquietado
Em uma tentativa insana de acordar daquele pesadelo em que estava
Fechando os punhos dava de socos em minha cabeça
Passado alguns segundos, sinto uma leve brisa tocando meu rosto.
O oco do meu peito sendo preenchido completamente com o cantar daqueles pássaros sobre os ipês.
Que poderiam ser confundidos facilmente com a mais pura neve branca.
Vestido leve em um tom rosado, eram minhas vestes naquele momento.
Apesar de estranho, estava confortável meus pés diretamente na grama fina e gélida.
Suspiro e penso que poderia ser feliz naquele lugar, apesar da solidão que se fazia até o dado momento.
Mais ao longe, ouço de flautas e violinos em uníssono.
Seguindo aquele agradável som, não percebo que havia chegado no mais alto morro.
Ali dava de vista a todos os lugares, que além de ipês brancos, tinha também roxos e amarelos.
De repente, todos os pássaros tomados de um susto voaram em direções desconexas.
O tempo fechou com a ventania que se fazia.
Descompensada procuro um lugar para me proteger do que quer que fosse.
As vozes e os gritos retornaram em um tom que causavam nada menos que desespero.
Ipês deram lugar a galhos secos e os pássaros, a corvos.
Me olhavam como se divertissem com tudo aquilo.
As lágrimas que cegavam meu olhos, me colocaram a frente de meus mais profundos traumas.
Entre tumbas e lápides de pessoas conhecidas e muito amadas, desejei acordar novamente.
Como instinto de sobrevivência, só faço correr.
Não contendo a velocidade a tempo,  caio naquilo que parecia ser uma cova aberta.
Os sete palmos, transformaram-se em milhares.
Quando sou despertada sendo bruscamente jogada no meu ponto de partida.
Na certeza de aquilo ter sido apenas um sonho.
Naquela sala escura e quente.
Com meu vestido rosado.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Mar morto onde habito







Ainda está tão cedo, há feridas ainda bem abertas aqui dentro. Não me peça que cure seus traumas enquanto os meus estão a atormentar-me a cada minuto. Quero que você fique longe, não entende? Quando me afasto não é uma mensagem subliminar pra você se apegar mais a mim. Realmente quero manter distância entre nossos possíveis afetos. Não me conhece, nem se quer sabe meu endereço. Não se iluda achando que ao saber meu nome, número e uma dúzia de palavras doces serão suficientes pra me tirar desse mar morto onde habito.


Você não entenderia o fato de eu padecer em minha cama colecionando bitucas de cigarros baratos. Não seja tola ao achar que largaria essa monotonia por dias ensolarados e "felizes" ao seu lado. Gosto da minha solidão e não ouse tirá-la de mim. Quer ser bem vinda? Traga uma garrafa de vodka e saia sem dizer nada. Não quero ser responsável por tirar sua doçura e ingenuidade com minha escuridão interior. Deixe somente a luz do abajur acesa e não olhe tão fixamente pra mim com esses olhos enigmáticos imaginando o que dizer sobre minha aparência repugnante. Saia antes de começar a chorar com a dureza das minhas palavras, um dia, irá me agradecer. Se quer me ajudar, ajude-se, esquecendo que esteve aqui e que alguma vez se apaixonou por mim.