domingo, 16 de dezembro de 2012

Seu bilhete...




Minha dor morreu. Deveras provocar felicidade em mim essa afirmação.
Mas não. Como tudo que morre leva um fardo triste, assim está.
Não sei se conseguirei dormir sem o arfar de cortes em meu peito.
Como não mais sentirei culpa por finalmente estar sorrindo?
Uma roupa que está sobre meus corpo a dias, suja e com cheiro forte.
Acordo nua, lavada, como a muito não estava.
Num cabide ao canto do quarto, está o que parece ser minhas novas vestes.
Junto um bilhete escrito com sua caligrafia relaxada.
"- Vista-se e não aceite menos que a euforia."
Minha dor era nosso único elo em minha cabeça.
Aquilo era como me despedir novamente.
Novamente estar fora de mim por segundos.
Novamente dar um beijo em sua testa gélida.
Mais um adeus na lista de tantos outros destinados a ti.
Partiu, me forçando a continuar. Não parece egoísmo?
Não irei me lamentar, chorar ou julgar a vontade maior de quem quer que seja mais uma vez.
Mas obedeci, dobrei seu bilhete ao meio e coloquei-o em meu bolso...

...

Ao contrario do que dizem, a esperança foi a primeira descer do vagão.
Como numa reunião chata de família onde todos esperam que alguém puxe a fila pra ir embora.
Com olhares da certeza do até breve, seguiam.
Mas agora na ultima parada, a dor que não é mais minha, desce. Dizendo que se eu pudesse encontrar a esperança novamente, encontraria todos os outros. Quem sabe.
Porém, nunca antes foi tão bom estar sozinha...
Eu  e seu bilhete dobrado ao meio em meu bolso.


sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

...





Noite quente de um dia qualquer, o suor dilata meus poros a procura de fuga.
Seriam eles certos por se manterem distantes de toda essa confusão interior?
Fecho meus olhos e vejo adiante de mim mesma, um porvir num lugar agradável jogada entre folhas.
Quero a todo instante arrancar de mim esse instinto de benevolência fajuta.
Mas algo mais forte me coloca contra parede e impõe trejeitos, fantasias, jogos...
Todas as cores de um ser único que vive em cima da minha cabeça dando ordens absurdas.
Fale, sorria, faça piadas, seja rude, durma, durma mais, por que não morre?
Vez em quando num ato displicente, entra pelo meu nariz, bocas e ouvidos em direção ao órgão que sua única função seria me manter de alguma forma.
Um coração falho e cheio de marcas, não mais estranha seres desconhecidos.
Talvez pela certeza de que só farão novos machucados e partirão.
Com o pensamento de "não é o primeiro e nem será o último..."
Como é doce a dor causada, lágrimas vomitadas.
Anjos sem sexo, o lago sem o monstro, cabana sem segredos e eu sem eu mesma.
Encruzilhadas com um fim barrado por muros pichados de pentagramas.
Marcar território com saliva amanhecida ao fundo de cigarros e conhaque barato.
Noite quente de um dia qualquer, o que há de fazer sentido?
Nada. Nem mesmo isso.